A prática de se
organizar em roda para conversar traz inúmeros significados. A expressão por
meio da linguagem oral de sentimentos, ideias, valores estão presentes em todas
elas. Mas, não podemos afirmar que tenham as mesmas finalidades e
aprendizagens.
Cada uma carrega
características e peculiaridades, e é importante que o professor saiba
diferenciá-las para que possa fazer a melhor escolha na hora de planejar.
O momento da
conversa que se destina a investigação, entendemos investigação como
busca, pesquisa, indagação com a finalidade de saber algo ou de saber melhor
algo, não é comum no cotidiano escolar.
Este momento
contribui para que as crianças sejam capazes de construir conhecimentos
importantes para o seu desenvolvimento. Estimular para que aprendam a observar,
perguntar, levantar hipóteses, imaginar, pensar e buscar comprovação é possível
na educação infantil.
Talvez, por ser
considerada como um momento de liberdade de expressão das crianças, de
comunicação de recados, rotinas do dia, esclarecimento de atividades, os
professores não se apercebem, da riqueza de oportunidades de conhecimento e
desenvolvimento, que este encontro oferece.
Se é na hora da roda
que trabalhamos, além dos assuntos do cotidiano, o universo das crianças,
devemos também oportunizar situações em que os alunos mergulhem no contexto
sócio-histórico mais amplo, como seres pertencentes a um grupo, inseridos em
questões bio – cognitivo - sociais, discutindo, resgatando e renomeando
conceitos, explorando saberes e fazeres, com as trocas de ideias, os conflitos
gerados e a busca de soluções no coletivo.
Porém, não se deve
perder, neste contexto, o foco na autonomia dos olhares, sentimentos, opiniões
e buscas, que tal dinâmica oferece, para cada criança. O repertório infantil é
plural e como tal deve ser valorizado na medida em que cada um tenha a
oportunidade de se expressar.
Os registros e a
documentação coletados nestas interações são preciosos para o professor
conhecer cada aluno na individualidade, o grupo-classe, e o seu crescimento e
desenvolvimento enquanto professor, em vista da expectativa das experiências
que emergem destas/nestas relações.
A hora da roda
oportuniza, sobretudo, a construção de conhecimentos e a multiplicidade de
respostas e variáveis, se aproveitarmos as contribuições advindas das crianças,
e mediante estas, lançarmos desafios e questionamentos.
Contribuir para a
sensação de identidade do grupo e facilitar o desenvolvimento geral do
raciocínio e inteligência, faz parte, portanto, dos objetivos esperados com a
hora da roda.
Para o professor,
este planejamento deve considerar mais de uma alternativa, caso o que tinha em
mente não dê certo. Em alguns casos, o que pensamos não se concretiza, não é o
momento apropriado, ou ainda, os alunos chegam com propostas mais
significativas do que as que tínhamos pensado para o dia.
Então, por que não aproveitar, na
roda, este “gancho” trazido pelos alunos e deixar o que tínhamos planejado,
para outra oportunidade?
Percebemos que alguns pontos são
fundamentais para a boa condução da roda, como por exemplo:
a) Estabelecer combinados, como levantar a mão cada
vez que pretende falar ou dar sua opinião;
b) Professor também deve levantar a mão para falar,
se este for o combinado, agindo como um membro do grupo;
c) Se o professor utilizar a roda como o início de
uma atividade, de que necessite materiais de apoio, deve, anteriormente, já
tê-los separado e colocado na roda, para não gerar a dispersão das crianças.
Não dá certo lançar a atividade para as crianças e imaginar que fiquem todos em
roda, esperando pelo professor que saiu para providenciar o material a ser
utilizado. Planejar é importante!;
d) Apoiar, sugerir e facilitar a condução dos
posicionamentos dos alunos, mediante os fatos, é tarefa do professor mediador;
e) Não perder de vista os objetivos da roda, quanto
à cooperação, trabalhar o saber ouvir e falar, a autonomia de pensar e agir, o
respeito, enfim;
f) Professor cooperador, no sentido de operar junto
com/aos os alunos, não aproveitar a roda apenas para punir ou reclamar;
g) Estar sensível à criança que só se dirige a ele
(professor) e não consegue se colocar para o grupo;
h) Organizar as crianças no chão, de modo que todas
se vejam, sem obstáculos físicos (uma criança à frente da outra) ou materiais
(colunas e pilastras atrapalhando a visão e audição);
i) Estar atento ao tempo de duração, que pode
variar de acordo com o interesse, mas que, normalmente, segue o padrão abaixo,
quando a roda já está incorporada e familiarizada pelo grupo classe. No início
do ano letivo, estes valores são menores:
Idade
|
Tempo de duração da roda (no máximo)
|
2 - 3 anos
|
5 – 10 minutos
|
3 - 4 anos
|
10 – 20 minutos
|
5 anos em diante
|
30 minutos
|
j) O professor deve manter o ritmo da pauta do dia,
evitando lacunas de silêncio. Estas são indicativas de que, ou a atividade está
extensa, desinteressante, ou já se esgotou o que devia ser trabalhado;
k) Quando todos falam ao mesmo tempo, é hora de
sinalizar os combinados para o bom andamento da roda naquele dia;
l) Sempre ter mais de uma proposta em mente! Isto
salva o dia!
Por fim, certificar-se de que, um bom trabalho
requer planejamento, estudo, pesquisa e dedicação por parte do professor. E uma
boa hora da roda conterá estes elementos em seu desenvolvimento.
Beatriz Dias Carlos, professora de Educação
Infantil, graduada em Letras pela UNESA,
especialista em
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNESA, Psicomotricidade e Administração/Supervisão
Escolar pelo IAVM – UNICAM.
Excelente texto da Professora de Educação Infantil Beatriz!
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